Fatos que alteraram a periodicidade das assembleias mundiais

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Ao longo da história, datas e locais da maior reunião administrativa da igreja sofreram mudanças, mas a missão adventista se manteve

Lisandro Staut 

O volume 21, edição número 23, da Advent Review publicada em 5 de maio de 1863 trazia um convite modesto: “Haverá uma Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia em Battle Creek, Michigan, a começar na quarta-feira, 20 de maio, às 18h”.

Tanto os estados americanos que já tinham estabelecido associações locais, quanto aqueles que ainda não tinham uma organização formal da igreja poderiam enviar representantes, também chamados de delegados, ou até mesmo se manifestar através de cartas. Ao todo, 20 delegados foram reconhecidos como representantes de sete estados: Nova Iorque, Ohio, Indiana, Wisconsin, Iowa, Minnesotta e Michigan.

Um detalhe interessante é que os representantes locais do Michigan eram nove, quase metade do total de delegados daquela primeira reunião geral.

A constituição da Associação Geral estabelecida na manhã do dia 21 de maio de 1863 afirmava no 8º artigo, primeira seção, que as reuniões ordinárias aconteceriam anualmente. Já na segunda seção, se provaram necessários ajustes nas decisões e foi votada a alteração que afirmava: “Reuniões extraordinárias poderão ser convocadas a critério do comitê.”

Desde aquela primeira assembleia geral até 1889, as reuniões com representantes de todos os campos em que a Igreja Adventista estava presente aconteceram, de fato, anualmente. Com a organização de comissões menores para diferentes áreas e com o estabelecimento de uma comissão diretiva para atuar entre uma assembleia geral e outra, em novembro de 1889 a frequência das reuniões gerais foi alterada para acontecer a cada dois anos.

Alteração nas reuniões

Em 1905, na terceira assembleia a se reunir bienalmente, e ainda contando com a presença de quatro remanescentes da Assembleia de 1863, um novo voto ampliou para quatro anos a frequência da Sessão da Associação Geral. As razões incluídas no voto de 15 de maio de 1905, que não foi unânime, envolviam o alto custo com transporte e o longo tempo que os representantes ficavam longe do seu campo de origem, prejudicando o avanço local da obra adventista.

As duas assembleias gerais seguintes aconteceram como planejado. Assim como a reunião de 1905, as sessões de 1909 e 1913 também aconteceram na área de Washington, D.C., onde ficava a nova sede mundial da organização; desde a mudança de Battle Creek, no Michigan.

A 38ª Sessão da Associação Geral, realizada entre maio e junho de 1913, marcou a criação das Divisões da Associação Geral. Elas são seções da sede mundial e possuem responsabilidade administrativa em determinadas áreas geográficas.

Pouco mais de um ano após aquela assembleia, um evento em Sarajevo, na Bósnia, afetaria a curso da história. O assassinato de Franz Ferdinand, herdeiro do Império Austro-Húngaro, em meio às tensões políticas já latentes, especialmente na Europa, foi o estopim que desencadeou a Primeira Guerra Mundial, tendo durado até o final de 1918 e custado diretamente cerca de 20 milhões de vidas!

A guerra

Em 9 de maio de 1916, um ano antes da data prevista para o evento, a comissão diretiva da Divisão Norte Americana sugeriu que, “tendo em conta as condições do mundo e a probabilidade de que os líderes de nosso trabalho no exterior achem difícil deixar seus campos durante o próximo período de verão..., cartas deveriam ser enviadas aos membros da Comissão da Divisão e da Associação Geral, pedindo conselho sobre o adiamento da próxima sessão quadrienal.” A consulta enviada para líderes do restante do mundo retornou com posição unânime em favor do adiamento.

A decisão de realizar a 39ª assembleia mundial em 1918 criou um inédito hiato de quatro anos, nove meses e 21 dias entre sessões da Associação Geral.

A decisão se provou acertada, já que em 1917 não apenas os países da Europa viviam tempos de guerra, mas também os próprios Estados Unidos. Apesar de reconhecer as implicações da guerra para o evento mais importante da igreja, foi em abril do mesmo ano que a Divisão Norte Americana marcou para 29 de março do ano seguinte a abertura da 39ª Sessão da Assembleia Geral que aconteceria pela terceira vez na Califórnia, dessa vez em San Francisco, que cedeu gratuitamente um auditório para até 10 mil pessoas.

A decisão criou um inédito hiato de quatro anos, nove meses e 21 dias entre sessões da Associação Geral. No fim de 1917, a Igreja Adventista tinha pouco mais de quatro mil igrejas e uma membresia de aproximadamente 154 mil pessoas.

Consequências econômicas

A grave crise econômica adiou a Assembleia. Foto: Adobe Stock

As sessões da Associação Geral aconteceram como planejado entre 1922 e 1930, quando os Estados Unidos já viam a economia derreter na chamada Grande Depressão. A crise econômica que paralisou aquela década é considerada a pior da história do mundo industrializado e teve seu momento mais agudo justamente entre 1933 e 1934, época em que o encontro global dos adventistas deveria acontecer. Naquele período, quase metade dos bancos americanos faliram e um quarto da população ficou sem emprego. Os planos da igreja mundial também foram afetados.

Dessa maneira, em outubro de 1932, o comitê executivo da Associação Geral deliberou sobre pedidos recebidos das diferentes partes do campo mundial para adiar a realização da reunião seguinte, marcada para 1934.

Um novo recorde de tempo entre duas assembleias gerais foi estabelecido nos anos 1930, com cinco anos, 11 meses e 14 dias entre a 42ª e a 43ª sessões da Associação Geral.

O que motivou o pedido de adiamento foi justamente a questão financeira. O custo de realização da assembleia era 40% bancado pela Associação Geral na época. De acordo com as notas da reunião realizada na tarde de 18 de outubro de 1932, vários presidentes das Divisões declararam que, se a sessão fosse realizada em 1934, seria impossível para seus campos enviar delegações representativas. Portanto, foi votado recomendar o adiamento da sessão para 1936.

Um novo recorde de tempo entre duas assembleias gerais foi, portanto, estabelecido nos anos 30, com cinco anos, 11 meses e 14 dias entre a 42ª e a 43ª sessões da Associação Geral. De 26 de maio a 8 de junho de 1936, os delegados mundiais da Igreja Adventista novamente se reuniram em San Francisco, na Califórnia.

A Segunda Guerra

A reunião geral seguinte deveria acontecer em 1940. Contudo, a tragédia econômica, as questões mal resolvidas na Primeira Guerra e uma inclinação para extremismos e instabilidade afetaram diversos países. A condição geopolítica se deteriorava rapidamente com avanços autoritários principalmente na Alemanha e na Rússia até que, em 1° de setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia, levando a França e a Grã-Bretanha a declarar guerra à Alemanha. Começou assim a Segunda Guerra Mundial, que, pelos seis anos seguintes, mataria cerca de 50 milhões de pessoas.

Campo de concentração em Auschwitz, Polônia. Foto: Unsplash

Com a experiência de outras duas alterações de data, a Igreja Adventista estabeleceu uma comissão para avaliar a conjuntura mundial e a possibilidade da realização da 44ª Sessão da Conferência Geral em meio à situação de guerra. A sugestão daquela comissão foi votada na tarde de 15 de outubro de 1939 nos seguintes termos: “Tendo em vista a probabilidade, devido à prevalência de guerra, de não podermos ter uma delegação representativa de nossas divisões do exterior, como é tão desejável em uma Sessão da Assembleia Geral, recomendamos que a Sessão da Associação Geral seja adiada por um ano...”.

Em 30 de novembro de 1939, durante outra reunião da comissão diretiva da Associação Geral, líderes da igreja reconheceram que a “condição de guerra continuava, e em vista do fato de que as condições não tinham melhorado” foi decidido manter a decisão de adiar o encontro por um ano. Porém, em outubro de 1940, com a condição de guerra ainda prevalente, a liderança da igreja recomendou que a assembleia geral seguinte fosse realizada entre 26 de maio e 11 de junho de 1941, novamente em San Francisco.

Conflito prolongado

Vigorando ainda a regra dos quatro anos, a expectativa da igreja mundial era se reunir novamente em meados de 1945. O plano era ter St. Louis, no estado norte-americano do Missouri, sediando pela primeira vez o encontro mundial dos adventistas do sétimo dia. Foi somente em 20 de fevereiro de 1945, numa reunião da comissão executiva da Associação Geral, que a decisão de adiar por um ano a realização da assembleia foi tomada, “na esperança de poder ter uma delegação mais completa das Divisões além-mar em data posterior, e desejando também cooperar com o governo no esforço de reduzir as viagens nesse momento crítico...”.

A Segunda Guerra Mundial ampliou o hiato dos encontros adventistas. Foto: Unsplash

Ainda em 14 de novembro de 1945, mais uma comissão executiva tratou da realização da assembleia geral que aconteceria de 28 de maio a 9 de junho em St. Louis, desde que um problema com o número de quartos de hotel disponíveis na cidade fosse solucionado em tempo. Como a dificuldade de estadia não pôde ser resolvida, o local da reunião precisou ser trocado. Então, Tacoma Park, nos arredores da capital federal, Washington, D.C., tornou-se a cidade-sede.

De 1946 a 1970, as Sessões da Assembleia Geral ocorreram regularmente a cada quatro anos. Uma nova proposta foi apresentada em 1970 e desde então, as reuniões mundiais da denominação passaram a acontecer a cada cinco anos, com uma exceção.

Pandemia e seus efeitos

Durante o concílio anual de 2011, a administração da Associação Geral apresentou aos delegados da comissão executiva da Igreja Adventista duas opções de local para o encontro geral que aconteceria nove anos depois. A 61ª edição retornaria para Atlanta, na Georgia, onde já havia sido realizada anteriormente (2010) ou para Indianápolis, em Indiana, sede da 55ª Sessão da Conferência Geral, em 1990. A escolha com antecedência de quase uma década foi feita por Indianápolis.

Todos os preparativos para um grande evento no Lucas Oil Stadium, com capacidade para 70 mil pessoas, foram feitos para o período de 25 de junho a 4 de julho de 2020. Assim como em outras quatro ocasiões ao longo de aproximadamente 160 anos de história, os desdobramentos de mais uma crise global tornaram os planos impraticáveis.

No fim de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi informada sobre um número de casos parecidos com pneumonia que se multiplicavam em Wuhan, na província de Hubei (China). A partir de então, autoridades sanitárias entraram em estado de alerta e informações sobre um novo vírus começaram a circular na imprensa mundial.

A pandemia impossibilitou grandes reuniões. Foto: Unsplash

No dia 7 de janeiro de 2020, autoridades chinesas identificaram e isolaram o novo coronavírus, depois nomeado oficialmente como COVID-19. Ainda no mês de janeiro, tanto a OMS quanto a secretaria de saúde dos Estados Unidos declararam emergência pública por conta do novo coronavírus e, em 11 de março, o surto ganhou status de pandemia.

A igreja acompanhava o desenrolar dos eventos envolvendo o novo coronavírus sabendo que um grande evento marcado para acontecer em pouco mais de três meses, reunindo gente do mundo todo, seria provavelmente inviável. Em 19 de março, a comissão executiva da igreja teve, mais uma vez, que adiar para o ano seguinte a realização da assembleia mundial.

O encontro em St. Louis, nos dias 6 a 11 de junho, marca a diferença de seis anos, 10 meses e 26 dias desde o encerramento da assembleia anterior, em San Antonio, no Texas.

Dessa vez, não somente uma nova data foi definida, mas a própria duração e formato do evento foram reduzidos para diminuir o número de participantes envolvidos e se adequar às regras de público. O local, contudo, permanecia o mesmo. Indianápolis ainda seria a capital mundial dos adventistas entre 20 e 25 de maio de 2021. Seria, porque em 12 de janeiro de 2021, devido ao avanço da pandemia, a comissão executiva da Associação Geral decidiu novamente adiar a 61ª Sessão.

O novo adiamento gerou problemas de agenda com o estádio em Indianápolis e St. Louis abriu as portas aos milhares de representantes da igreja e visitantes de todas as partes do mundo para a 61ª Assembleia mundial da Igreja Adventista. O encontro que vai de 6 a 11 de junho, marca a diferença de seis anos, 10 meses e 26 dias desde o encerramento da assembleia anterior. Um novo recorde em torno da espera para a reunião mundial.

Impactadas por guerras, desastre econômico e crise de saúde, as Sessões da Assembleia Geral continuarão a ser um ponto de encontro dos adventistas do sétimo dia e, ainda que datas e locais possam sofrer alterações, a missão segue adiante.

Fontes: adventistarchives.org; adventist.news; history.com

 

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