Harmonia celestial

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Marcos De Benedicto

A Associação Geral continua sendo a voz de Deus?

Se você fosse escolhido para representar oficialmente sua igreja numa assembleia mundial, qual seria seu papel como delegado?

( ) a. Conhecer a cultura de um povo global.

( ) b. Criticar a liderança e as decisões da igreja.

( ) c. Encontrar amigos e ampliar a rede de contatos.

( ) d. Nenhuma das alternativas anteriores.

Uma assembleia mundial da igreja, como a que ocorreu em junho, tem várias finalidades: escolher novos líderes, apresentar relatórios, refinar crenças, atualizar regulamentos, reconhecer nossa diversidade, abraçar os irmãos de outras tribos, dar uma dimensão global da igreja, relembrar quem nós somos, reafirmar o poder do Deus a quem servimos, redimensionar o tamanho da nossa missão, celebrar o que foi feito, enfatizar o que falta fazer, adorar o Criador em unidade com uma pluralidade de vozes, testemunhar o milagre da graça de Cristo.

Mais do que uma simples sessão de negócios, uma assembleia transcende sua própria especificidade e tem implicações eclesiológicas profundas. Reafirmando a igreja como o corpo de Cristo, o espaço do Espírito, uma comunidade global de fé, o cenário da graça, a síntese da esperança, a assembleia vai além do individualismo e do regionalismo. Expressa a universalidade, apostolicidade, autoridade e unidade da igreja global, conforme pontuou o teólogo Ángel Manuel Rodríguez na newsletter Reflections, do Instituto de Pesquisa Bíblica. “A koinonia de mensagem, missão e esperança não é criada na assembleia; os delegados a trazem com eles de suas comunidades locais de fé.”

Nossa mensageira inspirada, Ellen White, interagiu muitas vezes com figuras centrais das assembleias da igreja. Nas sessões de 1888 e 1901, palcos de decisões importantes, ela estava lá exercendo influência. Em 1901, em paralelo com a reorganização administrativa, insistiu para que os líderes buscassem a renovação espiritual. Segundo a Enciclopédia Ellen White (CPB, 2018, p. 1162), com exceção de John Byington, todos os presidentes da Associação Geral até Arthur Daniells foram advertidos pelo uso indevido da autoridade (o famoso “poder régio”). A liderança é uma tarefa compartilhada, que deve valorizar o diálogo, a democracia e a representatividade.

Deus deseja que a administração da igreja seja um reflexo do governo do Céu.

A pioneira tinha um alto conceito da Associação Geral como a “voz de Deus”, a mais elevada autoridade eclesiástica na Terra, e foi submissa às decisões da igreja mundial até o fim da vida. Porém, essa qualificação não era absoluta e incondicional; dependia do contexto e das atitudes dos líderes (ver Enciclopédia Ellen White, p. 1381-1385). Nos anos 1891 a 1901, ela ressaltou que a Associação Geral não mais representava a voz de Deus. A crítica era motivada por centralização do poder, questões administrativas e falta de espiritualidade.

No entanto, em 1911, ao reimprimir afirmações dos anos 1870, ela revelou que continuava a ter enorme estima pela esfera superior da igreja: “Deus investiu Sua igreja de especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e desprezo ninguém pode se justificar; pois aquele que age assim despreza a voz de Deus” (Atos dos Apóstolos [CPB, 2021], p. 104).

Deus deseja que a administração da igreja seja um reflexo do governo do Céu. “O objetivo de Cristo é que a ordem, o plano de governo e a divina harmonia celestiais sejam representados em Sua igreja na Terra”, Ellen White assinalou (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 548).

Assim, embora possamos ficar insatisfeitos com eventuais decisões da igreja, devemos respeitá-las e confiar no controle divino. Deus não dirige um só indivíduo, ainda que seja um gênio, mas um povo, mesmo que seja imperfeito.

MARCOS DE BENEDICTO é editor daRevista Adventista

(Editorial da edição de julho de 2022)

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