Um ousado arco de fé e esperança se ergue em Saint Louis
Diogo Cavalcanti
No coração de Saint Louis reluz o Gateway Arch, o “Arco do Portal”. É o monumento mais alto dos Estados Unidos. Suas mais de 43 mil toneladas de aço e concreto fincados à beira do rio Mississipi alcançam 192 metros de altura, o equivalente a um prédio de 63 andares. Dentro dessa megaestrutura viajam carros elétricos em dois trilhos, levando até cinco pessoas cada um. Do topo se enxerga até 48 km de distância. O monumento, que figura como ícone gráfico da presente Assembleia da Associação Geral, tem uma profunda relevância histórica e cultural.
O parque nacional que abriga o arco foi fundado em 1935 em homenagem a Thomas Jefferson, que comprou o estado de Louisiana em 1803. Ele sonhava com um país transcontinental. Assim, o gigantesco arco de aço representa um olhar para o Oeste, para as novas conquistas, a busca por um futuro promissor.
Entretanto, o parque envolve algo mais: o Old Courthouse (o Antigo Tribunal), que se tornou palco da história dos direitos civis. Ali, em 1846, o afro-americano Dred Scott moveu um processo legal para obter liberdade para si e sua esposa Harriet. Naquele tempo, o salário de seus serviços a uma pessoa eram entregues à sua “dona”, Irene Emerson, a qual literalmente os alugava. Após um moroso processo, o tribunal negou-lhes o pedido de liberdade. Isso repercutiu e se tornou um dos elementos decisivos para a Guerra Civil Americana. O mesmo antigo tribunal negou à Sra. Virginia Minor o direito de votar, o que também acabou gerando um movimento em torno do tema (saiba mais aqui).
De modo belo, o arco e o antigo tribunal mesclam memórias tão contraditórias quanto complementares. Traduzem uma imponência dissonante e admirável de nação e nacionalidade, civilização e direitos, de glórias e dramas. Ao mesmo tempo, o desenho metálico futurista do arco nos convida a refletir sobre um novo amanhã.
Acima de tudo, estamos aqui para clamar por transformação e um espírito de serviço. Ainda há bilhões de pessoas a serem alcançadas. Em todas as terras ainda há barreiras de riqueza e pobreza, de ceticismo e hostilidade, de acomodação cultural e metástase teológica, de comunidades minguantes e ideais erodidos.
O arco pode ser uma metáfora do que a Assembleia representa. Nesta reunião mundial celebramos as bênçãos dos últimos anos. Observamos a pujança institucional e a diversidade humana de um movimento escatológico que cruza os céus (Ap 14:6), chamando a atenção do mundo para a breve volta de Jesus.
Nesses encontros também somos lembrados de nossa identidade comum e da herança preciosa que os pioneiros nos legaram. Na Assembleia também nos lançamos em um empreendimento ousado, no qual cada voto ajuda a pincelar o futuro.
Portanto, sete anos depois de San Antonio, não podemos ser meros espectadores de um evento festivo, embora desfrutemos dele. Após o tsunami mortal da Covid, que adiou duas vezes este encontro, não viemos para assisti-lo passivamente. Diante do cenário de guerra e incertezas, não viemos para fazer turismo, embora não haja mal algum nisso!
Acima de tudo, estamos aqui para clamar por transformação e um espírito de serviço. Ainda há bilhões de pessoas a serem alcançadas. Em todas as terras ainda há barreiras de riqueza e pobreza, de ceticismo e hostilidade, de acomodação cultural e metástase teológica, de comunidades minguantes e ideais erodidos. Catástrofes humanitárias gritam por ajuda.
Outro ousado arco de fé e esperança se ergue em Saint Louis. Vemos um grande “Oeste” diante de nós e um Justo Juiz acima, que apela aos corações: “A quem enviarei, e quem há de ir por Nós?”. Seja a nossa resposta: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6:8).