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Relatórios da Secretaria e da Tesouraria sugerem sinergia e foco na missão aos centros mais populosos e desafiadores do planeta

Diogo Cavalcanti

Alguns dos desdobramentos mais determinantes de toda a Assembleia ocorreram nos dois primeiros dias, como de costume. O trio administrativo – pastores Ted Wilson, Erton Köhler e o tesoureiro Paul Douglas – seguem nas funções de presidente, secretário executivo e tesoureiro da Associação Geral até 2025. A permanência do pastor Wilson sinaliza uma “aposta no resgate do adventismo autêntico e profético”, com sua ênfase no “envolvimento total dos membros”, como já vinha fazendo. Por sua vez, a confirmação da Assembleia do secretário e do tesoureiro esboça novas possibilidades.

Intencionalidade

Conhecido por sua ênfase na integração de ministérios, o pastor Erton Köhler apresentou na manhã do dia 7 de junho um relatório com forte ênfase em missão. Em vez de aparições isoladas e pontuais em janelas da agenda da Assembleia, viu-se uma concertação dinâmica e sincronizada de diferentes líderes apresentados em ligação com a Secretaria. Assim, em um só bloco, falou-se da parte dos Adventist Archives, do Adventist Volunteer Service e da plataforma VividFaith, entre outros ministérios e temas. A categorização pareceu ter um efeito didático, simplificando o que poderia soar complexo e sem sintonia. Mais do que o efeito didático, buscou-se demonstrar a relação orgânica e de interdependência entre essas iniciativas.

O relatório da Secretaria foi organizado em três chaves principais: dados, missão e pessoas. Começando pelos dados, enfatizou o crescimento numérico dos 3.500 membros em 1863 aos 22 milhões de membros atuais, que se reúnem em mais de 95 mil igrejas e quase 73 mil grupos. Quanto às pessoas, tratou do número atual de missionários e a necessidade de maior envolvimento das Divisões. Quanto à missão, destacou o trabalho dos diferentes ministérios e líderes, entremeados por breves histórias e declarações.

Desafios e respostas

No último quinquênio, foram batizadas anualmente mais de 1,2 milhão de pessoas em média, com o pico de 1.383.427 batismos em 2018. Contudo, assim como o pastor G.T. Ng, o secretário anterior, alertou na última Assembleia, a perda de membros ainda é alarmante. Para cada 100 batismos realizados nos últimos sete anos, 53 pessoas deixaram a igreja.

Questionado por um delegado sobre as causas, o pastor Erton afirmou que é evidente que há algo de errado e que providências devem ser tomadas, seja no nível da Associação Geral, das Divisões ou de qualquer outro. A boa notícia é que três Divisões (a do Pacífico Sul-Asiático, a Sul-Americana e a Interamericana) têm integrados ao seu planejamento programas sérios de resgate de membros afastados. Esses esforços resultaram, somente em 2017, em 277.163 pessoas que retornaram à igreja, segundo o pastor Köhler.

Ainda sobre esse tema, David Trim enfatizou tanto a importância do outreach (alcance externo) quanto ao do inreach (alcance interno). Também destacou o crescimento institucional, que por um lado favorece a um acompanhamento pastoral mais aproximado, mas por outro enseja cuidados para não se transmitir uma sensação de aumento da burocracia. Ou seja, a organização deve subsistir como facilitadora, e não o contrário. Segundo o pastor Köhler, “também não podemos diminuir a ênfase em missão para dar lugar ao discipulado, pois missão é discipulado”, defendeu diante dos delegados.

Algumas regiões do Sul global, especialmente na África Subsaariana e do Pacífico, com destaque às Filipinas, são as que mais têm mostrado crescimento. A igreja na Tanzânia, Uganda e no nordeste do Congo cresceram em uma média de 8 a 12% ao ano. Por sua vez, o norte africano, marcado pelo predomínio do islamismo, se mostra resistente. Da mesma forma, outros países da janela 10/40, marcadamente hindus, budistas e ateístas, assim como o Norte pós-moderno ou pós-cristão, “requerem um comprometimento de longo prazo dos recursos missionários”, segundo Köhler.

“Missão, missão, missão”

Esse foi o principal ponto de convergência nos relatórios da Secretaria e da Tesouraria mundiais da igreja. Não foi apenas um uso retórico, no nível discursivo, mas apresentações propositivas, com medidas práticas. Para ambas as áreas, a pandemia de Covid-19 representou um imenso impacto em termos de redução de entradas, queda de batismos, o que levou a uma profunda reavaliação de processos, à ampliação digital e a um escrutínio ainda mais rigoroso de aonde os recursos humanos e financeiros devem seguir.

Em sua fala, Paul Douglas propôs uma reprogramação dos critérios de envio de recursos para as missões, priorizando: (1) missões de “contato direto” e criação de novas igrejas; (2) países da janela 10/40; (3) áreas com mais de um milhão de habitantes; (4) grupos pós-modernos ou pós-cristãos; (5) lugares com proporcionalmente pouca presença adventista e (6) investimento em equipamentos dos projetos de “contato direto”.

Segundo o tesoureiro da igreja mundial, diante da grave crise recente (da qual a igreja já se recuperou), a membresia se mostrou fiel. Os dízimos, que caíam desde 2018, subiram significativamente de 2020 para 2021. Em sua visão, “Deus nos confiou tanto a mordomia da missão quanto a mordomia do dinheiro”, e ambas devem contribuir para um só propósito.

Paul Douglas ainda destacou que a queda das moedas frente ao dólar, especialmente do real brasileiro (a moeda de maior impacto no orçamento da Igreja Adventista) reforçou a necessidade de buscar uma solidez financeira em todos os níveis administrativos. O atendimento às prioridades mais críticas do campo missionário e do funcionamento geral da obra não podem ser fragilizadas pelas volubilidades cambiárias e econômicas, ressaltou o tesoureiro.

Em resumo, os líderes Erton Köhler e Paul Douglas deram um tom claro em seus relatórios. Descreveram estrategicamente uma visão missionária do gerenciamento de dados, pessoas e recursos. O foco incondicional na missão (Mt 28:18-20), obviamente ancorado em sua identidade bíblica (Ap 14:6, 7), visa ao avanço saudável da igreja em direção ao futuro e ao sonho maior de preparar um povo para o encontro com o Cristo. Como Douglas destacou, é sobre pregar o evangelho a todas as nações (Mt 24:14).3

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